Thursday, March 15, 2007

Postagem feita por Camila do Valle

Entre todos nós, prefiro o discurso amoroso.

E porque entre nós há sempre um nó a mais ou a menos, tento diminuir um deles (outros merecerão ser aumentados, sem dúvida). E certifico a todos de que não estou presente em nenhuma das antologias citadas, apesar de já ter escrito que Adão e Eva eram dois homens e apesar de alguns dos varões citados abaixo como antologiadores terem conhecimento disso. A verdade é que há muito mais escritores entre o céu das publicações e o limbo das gavetas e arquivos do que sonha a nossa , mesmo assim não vã, topografia:

"Eu não me apropriei da idéia de Marcelino Freire ou Santiago Nazarian para organizar uma antologia sobre a questão da homossexualidade.

Eu roubei a idéia de
Gasparino Damatta, que em 1967 publicou a primeira antologia brasileira sobre o tema, intitulada Histórias do amor maldito (Rio de Janeiro: Record, 1967)

Eu roubei a idéia de
José Carlos Honório, que em 1995 organizou a antologia O amor com olhos de adeus (São Paulo: Transviatta, 1995)

Eu roubei a idéia da
coletânea Triunfo dos pêlos e outros contos GLS, uma coletânea de contos escolhidos em concurso patrocinado pela editora (São Paulo: Edições GLS, 2000)

Eu roubei a idéia de
Lucia Facco, que no ano passado (repito, no ano passado) lançou a antologia Lado B, histórias de mulheres (São Paulo: Edições GLS, 2006)


Todos esses livros, que me precederam na preocupação de provocar uma reflexão sobre o tema, estão devidamente citados à página 14 do meu prefácio à coletânea 'Entre nós', publicada no Rio de Janeiro, pela editora Língua Geral".

Se quiser, pode repassar essa mensagem.

Luiz Ruffato

Monday, January 01, 2007

acerca do LIVRO DE 7 FACES, em italiano

Saturday, December 09, 2006

uma flor que se desfaz

Quando o conheci, esta árvore estava linda e frondosa./ Ele sabe, mas ele não estava lá./ Agora começam a cair as folhas./ E eu já não reconheço mais um e outro personagem./Por que as árvores simplesmente seguem seu curso e nós nos despetalamos tanto?/ Me dá vergonha, diante de uma árvore nua,/ Estar assim tão vestida e não saber como me despir sem estiolar-me:/ Tão sinhazinha de meus corpetes e laços de fita,/ De meus penteados singulares contra o vento.../ ...Que o único que posso fazer é escrever estes versos a título de interrogação?/ Não sei o que responder./ Sabem-no as árvores?/ Estarei vestida para sempre ou, quiçá um dia,/ Ele encontrará as minhas vestes caídas e seguirá as pistas que levarão/ Ao meu corpo vivo e nu sobre a terra/ De um jardim que seja o nosso: meu, dele e da árvore?


Em breve, a crônica desta feita em baires... Com fotografias y murales.
Besos.

Wednesday, November 29, 2006

Buenos Aires, de nuevo y novamente


Lá estaremos, de 6 a 10 de dezembro: Centro Cultural Borges,
eu, Acme e Antonio Fonseca Fernandes:
Eu: lendo uns poemas
Acme: "escrevendo" suas pinturas
Antonio: apresentando seu documentário "Um companheiro" e, daqui pra frente (e sempre:ojalá!), documentando os acontecimentos poéticos da América Latina.

Friday, November 17, 2006

SUPERCOISA

Ver programação da supercoisa acontecendo:
dia 26 de novembro em São Paulo.

Wednesday, November 15, 2006

seda y terciopelo

camila do valle diz: agora, presa da ubiqüidade, estou também em www.sedaeterciopelo.blogspot.com

Sunday, November 12, 2006

4 poemas e 1 marido

Camila do Valle


Memorial de uma oração por um amor com flores

Os olhos dos outros regam a nossa existência.
Os olhos do jardineiro desconfiam:
— O marido é ou não é o homem que sabe fazer a mulher feliz?
Perguntam-me esses olhos com um início de indignação:
— Então, por quê? Por que trabalho para fazer bonito este jardim?
Respondo, entre tímida, estiolada e resoluta,
passeando com os olhos no rosto dele,
que um belo jardim ajuda-me a ter esperanças
de que o marido aprenda a amar com flores.
Entendemo-nos, pois:
gente com gente, trabalho com trabalho.
Choro minhas pitangas por cá
[quando o trabalho não dá certo.
Certamente ele chora as dele em algum lugar
[longe dos meus olhos.
Não fosse assim,
não teríamos esse diálogo de olhos tão claros
[um ao pé do outro.
E cheios de pétalas de rosas.
O jardineiro espalha o adubo sobre a terra
(um tom de marrom a mais que o adubo).
Parece um balé de cores próximas.
Um balé de movimentos leves
executado delicada e magicamente pelo jardineiro
com o aparente desauxílio da força muscular.
Meus olhos marejam sobre terra firme e adubada.
Os olhos dos outros rezam a nossa existência.


O marido e a guerra

Não há nada a escrever sobre o marido e a guerra.
O marido é a própria guerra.
Por isso,
Perto de mim, o adeus faz casa.
Por isso, para o ano,
Venho de sedas.
Para fazer deslizar no meu vestido o fio da sua navalha,
Para mostrar a você que ganhar não é um jogo de vida ou morte
Há lugar para todos no encontro da vitória, não há?
Enquanto manejo a minha espada cheia de tinta sobre o papel, você prepara os seus canhões.
Espero que seja dado a mim:
escolher as armas
ou me mudar para a casa do adeus.

A Manhã

Quando acordei, pensei que

"amanhã arrumarei, sozinhazinha, esses livros nas estantes que hei de comprar.
Só amanhã, hoje não.
Por hoje sou só mais uma esposa limpinha que se deita ao lado do marido.
Amanhã, prometo, escreverei versos mais vigorosos:
com a ponta da espada chinesa que aprenderei a manejar na Sociedade Taoísta do Brasil, que fica aqui bem ao lado da minha casa.
Mas amanhã, hoje não.
Por hoje sou só mais uma esposa que se deita limpinha ao lado do marido.
Embora, ao acordar, eu tenha percebido a mancha de sangue nos nossos lençóis."

Há manhãs.


Mais da série poesia de contador


Li num horóscopo d’além mar que qualquer dia desses vamos ser:
“ricos, bonitos, inteligentes e célebres”.
O que será um problema...
Podemos apenas trocar o “célebres” por “felizes”?
E, quem sabe, podemos abrir mão de um pouco de “inteligência” em favor da “sensibilidade”?
Que achas?
Recomeçarei a anotar nossos planos a partir de uma resposta tua.
Até lá, sigo inventando roupas de rica, bonita e um pouco inteligente
Para adiantar nosso futuro.
Necessito uma resposta urgente
se queres que eu também te invente uns trajes.




E clicar sobre a imagem escondida no retângulo escuro, por favor

Tango
Ich sehe Millionen von Robertos jeden Tag.
Aber Anita brauchte ich nur ein einziges
Mal zu sehen schon schrieb ich ein Gedicht.
Die Stadt dort war ich.Rote Kaulquappen schwammen aus meiner Vagina
Venen strömten durch meine Beinezeichneten Avenidas mitten im Zentrum Lateinamerikas.
Die Sprache gehört wohl den Männern,
die Stadt aber nenne ich Frau.
Von weitem schreit meine Großmutter ganz nah:
– Bleib anständig, Mädchen! Schlag die Beine übereinander!
Und ich schlage ganz zauberhaft die Beine übereinander,und entzücke den Kapitän.
Den Säbel am Gürtel und die Zügel in der Hand (ich oder er?)
Nur eine einzige Bitte, Anita, heirate ihn nicht.
Wenn du nicht heiratest, heirate ich auch nicht.
Wir halten die Beine weiter gründlich gespreiztin Lateinamerika.
Aus Strategie.
Und ohne Anstand.
(übertragen von Timo Berger)


Tango
Vejo milhões de Robertos todos os dias.
Mas foi só ver Anita uma única vez que fiz um poema.
Aí a cidade era eu.
Girinos vermelhos saíam de minha vagina,
escorriam veias pelas minhas pernas,
abrindo avenidas em pleno centro da América Latina.
Embora a linguagem seja dos homens,a cidade saiu-me mulher.
De longe, a minha avó grita tão perto:
– Tenha modos, menina! Cruze as pernas!
E eu cruzo, adoravelmente, as pernas,
e encanto o senhor capitão.
De espada na cinta e ginete na mão. (eu ou ele?)
Peço-te, Anita, somente, que não se case com ele.
Se você não se casar: nem eu.
Continuemos com as pernas escrupulosamente abertasna América Latina.
De forma estratégica: sem modos.

Saturday, November 11, 2006

tango em alemão



Deixei aí ao lado, na lista de links, um para a latin log, uma antologia de poetas latino-americanos vertidos para o alemão por Rike Bolte e Herr Berger, onde foi publicado este poema meu. E deixo aqui também o poema-tango. Para comemorar. Em português e alemão. Ou ao contrário. Afinal estão a bailar o ritmo portenho. E vão. E... ato contínuo: voltam.

Thursday, November 09, 2006

um retrato da moça por trás da testemunha das vozes de natércia, catarina, beatriz, laura (ela foi vista por dido em catargo)


Ana Luísa Amaral é autora de uns poemas lindos. Não fazem falta o fado e umas ladeiras do Porto ao fundo. Tem um Portugal morando ali. Visitado por estorninhos.

a favorita

Ana Luísa Amaral

O excesso mais perfeito

Queria um poema de respiração tensa
e sem pudor.
Com a elegância redonda das mulheres barrocas
e o avesso todo do arbusto esguio.
Um poema que Rubens invejasse, ao ver,
lá do fundo de três séculos,
o seu corpo magnífico deitado sobre um divã,
e reclinados os braços nus,
só com pulseiras tão (mas tão) preciosas,
e um anjinho de cima,
no seu pequeno nicho feito nuvem,
a resguardá-lo, doce.
Um tal poema queria.
Muito mais tudo que as gregas dignidades
de equilíbrio.
Um poema feito de excessos e dourados,
e todavia muito belo na sua pujança obscurae mística.
Ah, como eu queria um poema diferenteda pureza do granito,
e da pureza do branco,
e da transparência das coisas transparentes.
Um poema exultando na angústia,
um largo rododendro cor de sangue.
Uma alameda inteira de rododendros por onde o vento,
ao passar, parasse deslumbrado
e em desvelo.
E ali ficasse, aprisionado ao cântico
das suas pulseiras tão (mas tão)preciosas.
Nu, de redondas formas, um tal poema queria.
Uma contra-reforma do silêncio.
Música, música, música a preencher-lhe o corpo
e o cabelo entrançado de flores e de serpentes,
e uma fonte de espanto polifónico a escorrer-lhe dos dedos.
Reclinado em divã forrado de veludo,
a sua nudez redonda e plena
faria grifos e sereias empalidecer.
E aos pobres templos,
de linhas tão contidas e tão puras,
tremer de medo só da fulguraçãodo seu olhar.
Dourado.
Música, música, música e a explosão da cor.
Espreitando lá do fundo de três séculos,
um Murillo calado, ao ver que simples eram os seus anjos
junto dos anjos nus deste poema,
cantando em conjunção com outros
astros louros
salmodias de amor e de perfeito excesso.
Gôngora empalidece, como os grifos,
agora que o contempla.
Esta contra-reforma do silêncio.
A sua mão erguida rumo ao céu,
carregada de nada

Monday, October 23, 2006

Afinal: Salida al mar (para Timo Berger)




água para afogar narciso
Camila do Valle

A última vez que disseram tê-la visto,
ela estava de sombrinha, xale e chapéu,
com um vestido longo, um batom escuro, e entrava na água.

A última vez que a vi,
sem sombra de dúvida,
ela falava muito. E gostava de mim.
Eu disse: “sem sombra de dúvida”.

Agora só a vejo nessa imagem que é dada a todos:
sempre a mesma versão,

silenciosa,
a entrar na água,
a barra da saia já molhada.
Dos seus pés não se via mais
Que a espuma das ondas que os cobria.

A última vez que a vi, percebi,
entre surpreendida e atraiçoada,
que ela estava no espelho.
E falava comigo.

O silêncio da outra imagem não é o que ela queria.

(foto André Monteiro)